5 de setembro de 2009

Relatório Anual Andebol 2008/2009

1 - Génese do Modelo
1.1 - Evolução do Jogo
Contra-ataque e ataque-rápido;
Risco, Velocidade, Ritmo, Beleza;
Sistemas defensivos Antecipativos.

1.2 - Experiência Prática
Prof. Educação Física:
- Clubes;
- Jovens;
- Masculinos e Femininos.

Treinador:
- Selecções, clubes;
- Jovens, Seniores;
- Masculinos, Femininos.

1.3 - Experiência no Espaço-Rua  
As experiências motoras básicas são adquiridas na “rua” através de actividades motoras intensas e variadas (acrescida coordenação motora geral) promovidas através da prática de actividades como “jogar à bola”, jogar à apanhada, entre muitas outras actividades equiparadas a jogos pré-desportivos. Estas actividades promovem o colectivismo, possuem regras simplificadas, campos pequenos, poucos jogadores, linhas imaginárias, equipas equilibradas, bola mal cheia, balizas pequenas de “pedra”, permitindo a participação de todos e promovendo a actividade física.

1.4 - Caracterização Global do jogo  
O jogo desenrola-se num “contexto ambiental interactivo e constante em mudança” que não pode ser explicado, pelo simples somatório das suas componentes técnicas, tácticas e estratégicas. Possui “Instabilidade” e “Incerteza”; e é constituído por estruturas múltiplas e Habilidades motoras abertas (“Invariantes”). Caracterizando o jogo de uma forma global, é um jogo funcional com esforço intermitente de carácter aleatório, que alterna períodos de alta e baixa intensidade. É um jogo constituído por acções motoras acíclicas, de curta duração e grande intensidade que ocorrem com uma frequência variável.

1.5 - Caracterização do Jogo Infantil
O jogo infantil caracteriza-se por manifesta incapacidade do jovem em usufruir plenamente do prazer de jogar andebol, isto é, a evolução técnico-táctica do jovem é fortemente condicionada pelas suas dificuldades. Ou seja, diversas dificuldades por parte da criança na prática devido às inerentes dificuldades como: dificuldades de natureza coordenativa, onde consequentemente podemos observar limitações ao nível das capacidades condicionais (força geral) e das capacidades técnicas (no que à execução dos gestos diz respeito); dificuldades de natureza táctica como antecipação, decisão e percepção, e será a partir destes indicadores que poderemos observar as capacidades psíquicas que dizem respeito à concentração e ao espírito colectivo.
As dificuldades observadas são dificuldades naturais, pois a criança quando começa a praticar andebol ou outra qualquer modalidade não dispõe do desenvolvimento de todas as suas capacidades, pelo contrário, estas ainda se encontram num estado bastante subdesenvolvido. A criança ainda não consegue associar os seus segmentos e as suas acções (passar, receber, driblar, rematar) conseguindo apenas associar os seus segmentos dissociando-os as suas acções. É esta a realidade que impossibilitará a criança de possuir aquele prazer imenso em jogar andebol, resultante da sua reduzida capacidade técnico-táctica ainda bastante condicionada.

1.5.1 - Natureza das dificuldades
“A criança associa os seus segmentos e dissocia as suas acções (rematar, passar, receber, driblar), enquanto o jogador de alto nível dissocia os seus segmentos e associa as suas acções.”
- Capacidades coordenativas;
- Capacidades Tácticas (decisão, percepção, antecipação);
- Capacidades condicionais;
- Capacidades técnicas (execução dos gestos técnicos);
- Capacidades psíquicas (concentração e espírito colectivo).

2 - Métodos de Treino
“Neste novo estilo de ensino desaparece o abuso de exercícios repetitivos e mecânicos e aparece o jogo, as situações globais e o treino técnico significativo ou treino técnico com intenção táctica.”
Assim, os métodos de treino englobam diferentes tipos de ensino como:

2.1 - Ensino integrado
“As componentes do Jogo de Andebol (condicional, coordenativa, psicológica, técnica, táctica e estratégica) não têm existência individual, só possuem significado quando compreendidas em conjunto” o que também se justifica pela componente colectiva da modalidade, pois para atingir o sucesso é necessário agir colectivamente, mas antes desta realidade nunca poderemos esquecer que o desenvolvimento das próprias capacidades do individuo são fundamentais;

2.2 - Ensino por Estímulos
“O facto de se proporcionar uma variedade de estímulos e de respostas no início da vida destes animais (ratos) causava mudanças químicas e estruturais nos seus cérebros e aumentava a sua capacidade para aprender a resolver problemas”.
Alternância de estímulos, adaptações aos mesmos, estímulos inesperados, ricos e variados são características do jogo de andebol pelo que não devem ser propostas aos jovens rotinas de trabalho. Embora estas, supostamente, melhorem a organização do treino, empobrecem o seu conteúdo.
O treinador deverá ter sempre bem presente a preocupação com novos e variados estímulos nos exercícios que apresenta, contribuído para o enriquecimento e desenvolvimento de cada atleta no desenvolvimento das suas capacidades quer cognitivas quer motoras.

2.3 - Ensino consciencializado
Em tudo o que fazemos no nosso dia-a-dia devemos ter consciência do que fazemos e porque o fazemos, jogar não será uma realidade diferente. Para jogar correctamente é necessário compreender, para compreender é necessário saber, para compreender e saber é necessário definir princípios do jogo; e para todas estas situações é necessária Inteligência que engloba criatividade, antecipação e plasticidade.
No treino com jovens deve-se dar extrema importância ao desenvolvimento das capacidades perceptivas e de decisão. “Melhorar a qualidade perceptiva do jogador é passar da centralização na bola à incorporação de estruturas significativas do jogo.” Para que tal aconteça devem-se privilegiar as situações de treino dedutivo, em detrimento do indutivo, privilegiando a realização de exercícios que se desenvolvam num “Meio instável”. Assim, será de extrema importância que o treinador tenha sempre bem presente nos exercícios que aplica, uma multiplicidade de respostas possíveis, promovendo a capacidade de análise e de decisão dos seus atletas, na procura da melhor resposta a cada situação.

2.4 - Ensino Adaptado
“Situação de equilíbrio entre as exigências próprias do treino e da competição e as capacidades actuais de resposta do jovem a essas exigências”.
O nível de jogo determina o nível de treino, tudo aquilo que se aprende no treino, tem de ser aplicado no jogo. Para isso é necessário adaptar o processo de treino para um estado de “prontidão desportiva”, ou seja, tentar atingir um equilíbrio entre as exigências próprias do treino, as da competição e as capacidades actuais de resposta do jovem a essas mesmas exigências.

2.5 - Ensino Contextualizado
O ensino do jogo tem de decorrer num “meio” que dê significado às aprendizagens (Aprendo “coisas”, porque preciso delas no jogo).
Se o ensino for descontextualizado, o jovem conhece a parte mas desconhece o todo, não havendo transferência de aprendizagens.
ste tipo de ensino recorre à memória, necessitando da percepção e análise da situação de forma a procurar a uma solução mental do problema e, consequentemente, após a recepção do efeito (melhor ou pior) dará uma solução motora ao problema sempre com referência à memória.
Se o ensino for descontextualizado, como poderá o jovem realizar uma correcta “percepção e análise da situação” dado que desconhece a situação?
No treino com jovens, é mais importante a prática do jogo (formal, reduzido e/ou condicionado) do que a realização de exercícios; a realização dos exercícios deve decorrer num “meio” que configure o “contexto de aplicação”; o ensino descontextualizado (analítico) não deve ser prescrito nas fases iniciais do processo ensino/aprendizagem do jogo.
É esta razão que nos leva a afirmar que no treino com jovens deve-se aplicar mais o jogo do que exercícios. É durante os treinos que os jogadores terão de se aperceber que para efectuarem um passe longo não o deverão fazer nem em “passe picado” nem em “balão” dado que desta forma o defesa facilmente o interceptará. Com os erros cometidos ao longo do treino ao efectuar esse tipo de passe durante o jogo (treino), quando estiverem em competição irão recordar-se que o passe longo não deve ser feito em “passe picado” nem em “balão” pois terão presente o insucesso obtido durante o treino ao realizar esse tipo de passe longo.

2.6 - Intervenção Pedagógica
Esta deverá ocorrer sobre a forma de feedback que proporcione o funcionamento autónomo do atleta, que o situe no tocante ao binómio qualidade-eficácia do seu desempenho e que possibilite a auto-regulação do seu comportamento. Para que este objectivo possa ser atingido não faz sentido dizer ao atleta como é que ele deve efectuar determinada acção, mas sim questioná-lo o porquê de ele ter realizado determinada acção (após ter tido insucesso na realização da mesma). Procedendo desta forma, permitirá ao atleta desenvolver a sua capacidade de análise e de decisão, levando o atleta a questionar-se também relativamente à acção mais correcta a realizar perante determinada situação.
No entanto, “a simples repetição não acompanhada de sentimento, não terá provavelmente muitos resultados”, o professor deverá contribuir para criar sentimentos de satisfação no aluno, quando um movimento é executado, ou seja, deverá elogiar a acção do atleta, mesmo que esta não tenha obtido sucesso. Defendemos que o professor deverá contribuir para criar sentimentos de satisfação no aluno, quando um movimento correcto é executado, pois “a verdadeira mensagem encontra-se no tom de voz, inflexões, expressão facial, postura. São os sinais não verbais, visuais, auditivos que transmitem a verdadeira mensagem”. Mesmo que o atleta falhe na sua acção e não obtenha sucesso treinador deverá felicitá-lo pelos componentes positivos da acção.
Já comecei a aprender aquilo que todos os treinadores precisam de aprender: que as imagens são melhores do que as palavras, que mostrar é melhor do que dizer e que muita informação é pior do que nenhuma”. Através desta afirmação pode entender que para facilitar a aprendizagem dos aspectos técnico-tácticos, é importante que os atletas vejam jogos da mesma modalidade de qualidade superior, o que poderá acontecer ao levar os atletas a verem jogos do escalão acima, ver jogos de selecções promovendo a aprendizagem através da observação quer de tácticas, quer de movimentações consoante a sua posição que ocupam, qual a forma correcta da realização de gestos técnicos até mesmo de fintas.

3 - Meios de treino
Jogos Pré-desportivos;
Exercícios;
Jogo.

3.1 - Jogos Pré-desportivos
Os jogos pré-desportivos são de extrema importância na evolução motora da criança, pois estes condensam de forma simples uma série de comportamentos básicos, característicos dos jogos desportivos colectivos, como é o caso do andebol.
O treinador poderá utilizar os mais variados jogos pré-desportivos como a apanhada, toca e foge, jogo da lagarta, entre muitos outros, pois todos eles têm finalidades inerentes, desenvolver as capacidades das crianças através do simples facto de ter de estar com atenção (visual e auditiva) aos estímulos, o ter de se desviar para fugir ou apanhar, entre muitos outros.

Exemplos:
Apanhada - exercício executado com grupos de 3 elementos, 1 em drible e os outros 2 de mão dada tentando apanhar o elemento que tem a bola. Este exercício implica domínio do drible, capacidade de desmarcação em drible, protecção da bola e cooperação entre os 2 elementos que estão de mão dada.
O exercício é feito por mais do que um grupo, como tal, existe necessidade de ter atenção aos outros elementos de forma a não acontecerem choques, o que pode ser utilizado como forma dos atletas adquirirem uma visão global do terreno de jogo (enquadramento espacial).
Caçador - exercício realizado num grupo com vários elementos, 2 são considerados os caçadores e têm na sua posse uma bola, estes não podem driblar a bola e só podem dar 3 passos com a bola na mão e efectuar passes entre si. O jogo consiste em tocar nos outros elementos caçando-os, para tal não podem lançar a bola, têm de ter a bola na mão.
O exercício apresenta dificuldades como a capacidade de passe e desmarcação entre os caçadores, enquadramento espacial, coordenação óculo-motora, limitação de 3 passos e passe em progressão.
Jogo dos 10 passes – exercício que consiste em realizar 10 passes seguidos sem que a equipa adversária intercepte a bola. O jogo deverá ser realizado num espaço reduzido tornando menor o espaço livre, obrigando desta forma a maiores e mais rápidos deslocamentos.
O exercício é realizado com duas equipas, a bola não pode cair no chão (cada vez que a bola tocar o chão a pontuação volta a zero ou muda a posse de bola), não se pode utilizar o drible, só se pode dar 3 passos com a bola na mão e a equipa que perde tem uma “punição” (flexões/corridas/etc.).
A execução deste exercício implica efectuar rápidas desmarcações, deslocamentos rápidos, passes seguros para que a bola não caia no chão e não se perca a posse de bola, capacidade de marcar o adversário, necessidade de jogar em equipa. Numa fase mais avançada do jogo, de forma a aumentar a dificuldade do exercício pode-se proibir passes repetidos, ou seja, quem tem a bola não pode passar a bola ao mesmo de quem a recebeu.
Râguebi adaptado - Adaptando a modalidade de râguebi ao andebol (campo reduzido - meio campo), delimita-se uma área pontuável para cada equipa. O objectivo do jogo consiste em chegar à área da equipa adversária sem ser tocado. O portador da bola não pode ser tocado pelo adversário, o que obriga a rápidas desmarcações quer do portador da bola quer dos seus colegas de equipa de forma a conseguirem chegar à área adversária e desta forma atingir o objectivo. As principais condicionantes do jogo serão: a necessidade de rápida desmarcação, rápida e correcta execução do passe, deslocamentos rápidos, capacidade de defesa (o jogo também é bom para treinar alguns aspectos da defesa H x H) e necessidade de jogar em equipa.

Processo ensino/aprendizagem do jogo

Componente táctico-lúdica → Componente técnico-lúdica
 
Nos meios de treino defendidos para as diferentes idades relativas a um jogador de Andebol, a componente o Jogo está sempre presente em todos os treinos desde o inicio, sendo importante referir também que o processo de treino nunca deverá apresentar percentagens de jogo inferiores a 50%. Podemos ainda afirmar que o jogo no processo de treino é fundamental e de extrema importância pois é a situação mais próxima do jogo (competição) em que os atletas aplicam tudo aquilo que sabem.

3.2 - Exercícios
O treino é um “espaço de problematização”, onde os problemas deverão ser abertos, possibilitando sempre respostas múltiplas, problemas que explorem a pluralidade dos sentidos através de repetições adequadas, execução rigorosa e informação de retorno adequada juntamente com incentivos de criatividade que cada treinador deverá dar aos seus atletas, estes terão elevadas possibilidades de evoluir de forma bastante positiva. Mas, para isso, deveremos ter sempre em atenção que estaremos a ensinar mal se tentarmos ensinar a jogar devagar um jogo que deve ser jogado depressa, pelo que se deverá sempre tentar encontrar a velocidade optimal. Ou seja, num treino em que o que se pretende é que o atleta aprenda a fintar deveremos por exemplo, colocar um defensor (semi-activo) entre 2 pinos e pedir ao atacante que remate à baliza sem que o defensor lhe tire a bola, solucionando por si mesmo. Assim, evita-se colocar um pino diante do atacante para fintar, pois se assim for o atleta não irá desenvolver a capacidade de resposta para solucionar a ultrapassar os adversários em jogo pois estes não serão estáticos. No entanto, devemos ter sempre em conta a “velocidade optimal” de cada atleta, pelo que devemos arranjar soluções para que no treino todos consigam realizar os seus gestos técnicos consoante o seu grau de velocidade e desenvolvimento. Uma forma de adaptar a velocidade do treino a todos os elementos é reduzir o número de jogadores de campo, fazendo com que a velocidade do jogo aumente naturalmente, isto é, havendo mais espaço no campo, haverá uma maior tendência a aumentar a velocidade individual de maneira a conseguir alcançar o seu objectivo: rematar á baliza.

3.2.1 - A bola
Defende-se que os exercícios sejam sempre realizados com bola, pois esta é parte fundamental do jogo.
Uma relação íntima com a bola, na procura da “unidade” corpo-utensílio, deve constituir-se como uma obsessão de treinadores e jogadores.
No decorrer de um treino observaremos sempre atletas que gostam de estar sempre com a bola na mão, em qualquer uma das partes do treino, como o aquecimento, ou até mesmo enquanto esperam pela sua vez de realizarem as tarefas. Estes atletas não deverão ser repreendidos pois o andebol é um desporto no qual a relação atleta-bola é indispensável. O contacto contínuo do atleta com a bola só lhe trará benefícios pois este ao estar em contacto com a bola irá estar a adaptar-se á sua estrutura e tamanho, o que fará com que esteja mais habituado à bola do que aquele atleta que só tem a bola na mão quando lhe é pedido que realize exercícios de passe, drible, remate. Por esta razão defende-se que todos os exercícios desde o aquecimento, prevejam esta, ou seja, a relação atleta-bola. No entanto, também sabemos que ao possibilitarmos estas situações, poderão existir mais facilmente situações de distracção, pelo que devemos pedir aos atletas que estejam atentos à sua vez de rematar (no caso de estarem a brincar com uma bola durante o tempo em que estão na fila á espera do remate) pois cada momento que se possa aproveitar do treino é fundamental para a sua realização.
Ao defendermos a presença constante da bola nos exercícios deveremos também ter atenção especial ao tamanho e textura desta, pois existe elevada correlação entre a má qualidade da bola e o insucesso no jogo. Assim, se o treinador considerar que o tamanho da bola, imposto pelas regras de cada escalão, não é proporcional á capacidade que os seus atletas têm em agarrar a bola, propõe-se que o treinador promova a utilização de uma bola mais pequena mas que permita que os seus treinos decorram a 100%,isto é, que os objectivos de desenvolvimento dos atletas sejam atingidos. Embora nos jogos, provavelmente, a prestação dos seus atletas tenha tendência a decair bastante devido ao tamanho da bola, a que estes não estarão habituados, pelo menos durante os treinos os atletas serão capazes de adquirir os conhecimentos necessários à sua evolução enquanto atletas e fundamentalmente ao desenvolvimento das suas capacidades motoras. Por outro lado, para além do tamanho, também a própria textura da bola é fundamental quer para o decorrer dos treinos, quer essencialmente para o desenvolvimento dos atletas, pelo que, se o treinador considerar que a bola X tem uma textura mais adequada aos seus atletas que a bola Y, durante os seus treinos deverá utilizar a bola X pois isso para além do tamanho, também terá influência na aprendizagem e no desenvolvimento.

3.2.2 - Remate
Neste capítulo de ensino deveremos apresentar em todas as sessões de treino o duelo entre rematador e guarda-redes, evitando situações de ausência da noção da baliza e privilegiando situações de remate pois o objectivo principal do Andebol é rematar com sucesso á baliza adversária, logo, em todos os treinos o remate á baliza é indispensável.
O remate pode ser utilizado em exercícios desde o passe até á posse de bola. Para isso podemos promover passes (2 a 2 ou 3 a 3) do meio campo até aos 6 metros com remate à baliza, ou até mesmo o jogo dos “10 passes” e que de seguida partam em contra-ataque até a baliza adversária com o objectivo de marcar golo. Estes são só alguns dos exercícios que o treinador poderá utilizar trabalhando para além do remate outros aspectos fundamentais necessários para a prática do andebol. No entanto, não nos devemos esquecer de um ponto funamental, todos os exercícios que envolvam o remate, deverão ter guarda-redes na baliza, pois é esta a realidade do jogo e para aproximar o treino o mais possível da situação de competição. Ou seja, para um atleta tentar atingir o seu objectivo (marcar golo), sem ninguém na baliza quando chegar à competição não estará preparado para tomar as decisões necessárias, nas fracções de segundos que possui, para observar o posicionamento do guarda-redes e colocar a bola num local que sabe ser de mais difícil acesso ao guarda-redes.

3.3 - Jogo
“O jogo é ao mesmo tempo, ponto de partida e de chegada. Tendo-se de o valorizar como meio efectivo de treino.” Podemos considerar o jogo o ponto de partida e de chegada, pois é através dele que se deverá ensinar os atletas que começam a jogar andebol.
O jogo, no contexto de treino, poderá ocorrer de variadas formas, com ou sem condicionamentos:
- Jogo reduzido (5:5 ou 6:6) em campo normal;
- Formal (7:7);
- Jogo reduzido (3:3, 4:4 ou 5:5) em campo reduzido.
Numa fase inicial, jogos 3:3, 4:4 ou 5:5 em campos reduzidos, com ou sem condicionamentos trarão maior simplicidade ao jogo, contendo um número reduzido de atletas, regulamentos adaptados e preferencialmente balizas de tamanho reduzido.
Quando os atletas começam a compreender os princípios fundamentais do Andebol o treinador pode fazer jogo normal, 6:6 ou 7:7 num campo normal, pois os atletas já se sabem desmarcar, driblar com a cabeça”levantada”, realizar um bom passe e recepção, e principalmente já sabem jogar com o colectivo.
No entanto, se pretendemos aumentar a velocidade de jogo, podemos optar por diminuir o tempo que os atletas têm para tomar decisões importantes para a sua equipa reduzindo o número de jogadores e o campo, pois quanto mais rápido o jogador for a tomar as suas decisões, mais sucesso terá na realização das suas acções.
Este mesmo capítulo, mas no contexto escolar, deverá ter em conta alguns pormenores importantes para o desenvolvimento da criança e da sua aprendizagem da modalidade. Para isso, deveremos ter em conta que neste contexto, de forma a promover o contacto com a bola e o desenvolvimento das várias capacidades motoras da criança, até aos 12 anos promover essencialmente o “Andebol 5”, se possível em campo reduzido, privilegiando que as crianças tenham contacto com a bola o maior número de vezes possíveis e que todas elas passem inúmeras vezes pelas mais variadas experiências. Entre os 13 e os 15 anos de idade preferencialmente o “Andebol 5” mas este, por sua vez, em campo normal, para dar a conhecer as realidades e dificuldades deste jogo que se quer rápido, quer na velocidade de execução quer na velocidade de reacção, procura de espaços e desmarcações.
A partir dos 15/16 anos a integração do “Andebol 7”, a modalidade o mais próximo possível da sua realidade.

3.3.1 - Jogo Reduzido
Características a respeitar:
- Número de jogadores reduzido;
- Espaço de jogo reduzido e simplificado;
- Regulamento de jogo adaptado;
- Baliza de tamanho reduzido.

3.3.2 - Vantagens
- Melhor compreensão do jogo pois as situações de conflitualidade individual serão menores;
-Maior envolvimento no jogo, maior número de passes, recepções, remates e desmarcações;
- Mais acções de sucesso, o que consequentemente levará a uma maior motivação.
Ou seja, as vantagens que o jogo reduzido poderá trazer aos atletas prendem-se essencialmente a uma melhor compreensão do jogo, pois havendo menos atletas surgirão menos situações de conflitos entre estes. Assim, consequentemente, possibilita-se um maior envolvimento no jogo por parte de cada atleta, possibilitando a cada um deles, um maior número de remates, recepções, passes e desmarcações, e o mais importante, mais acções de sucesso, o que trará uma motivação extra a cada jogador.
Nota: O jogo deverá ser tanto mais reduzido quanto menor for a competência dos jovens.


3.3.3 - Condicionamentos
É importante promover um jogo “inteligente” no qual:
- Exista progressão da bola com “qualidade”;
- As acções colectivas se sobreponham às acções individuais;
- As acções táctico-estratégicas se sobreponham às acções estritamente técnicas;
- Exista participação efectiva de todos os jogadores;
- As situações de conflitualidade diminuam.

Para tornar estes condicionamentos possíveis, conforme a finalidade que pretendermos no exercício, poderemos aplicar alguns dos seguintes condicionamentos: impedir a replicação do passe, impedir passes longos, limitar o número de dribles, utilização exclusiva de determinado tipo de passe, impedir o drible, impedir remates de longa distância, limitar o número de passes, entre muitos outros…
Assim, durante a realização do jogo reduzido poderemos introduzir alguns condicionamentos de maneira a fazer com que os atletas comecem a perceber como se joga Andebol, consoante a finalidade pretendida com as limitações. Alguns dos condicionamentos mais úteis que poderão ser introduzidos são o impedimento do drible visto cada atleta apenas pode dar 3 passos, obrigando a uma maior necessidade de jogar com o colectivo, necessidade de se desmarcar para poder receber a bola, jogar com a cabeça “levantada” á procura de alguém a quem passar a bola; impedir passes longos, remates de longa distância, obrigação de utilização exclusiva de passes picados, todos estes condicionamentos permitirão ao atleta começar a perceber os princípios fundamentais do andebol.

4 - Reflexão Crítica
Tendo em conta todo o processo de aprendizagem pelo qual passámos no decorrer do presente ano lectivo e, numa perspectiva de corresponder ao parâmetro de avaliação indicado, a presente reflexão crítica terá por base a matéria abordada no decorrer do ano lectivo.
Segundo Simões, T. (2009) nesta fase as crianças não podem ser consideradas atletas, apenas um ser humano em formação com potencial para se tornar atleta profissional.
O processo de aprendizagem abordará sempre questões como:
Como aprendem as crianças? Por onde começar?
Talvez um dos maiores erros ao nível do ensino, tantas vezes alertados anteriormente na vasta bibliografia sobre andebol, seja a constante falta de noção de como treinar um atleta em suas diversas fases, pois este só se torna num atleta depois de deixar de ser criança, e esse é um dos pontos fundamentais.
É e será sempre de extrema relevância ter bem presente que existem pontos e tipos de treino diferentes para cada categoria de acordo com a idade do atleta: 6-7; 8-9; 10-11-12; 13-14-15 e 16, mas até mesmo esta divisão será sempre susceptível de discussão.
Se abordarmos a iniciação de crianças no andebol com 6 e 7 anos de idade observando as características destes podemos observar que estas facilmente se transportam para um mundo irreal, um mundo de fantasias, onde jogam com elas mesmas. Este individualismo “normal” que se expressa por desconhecimento das tarefas de divisão do jogo, pela normal falta de concentração inerente à idade, pelo desconhecimento real do fim que se pretende atingir.
Nestas idades as crianças caracteristicamente movem-se muito, correm constantemente, possuindo curtos períodos de alta actividade, no entanto, as pausas serão sempre necessárias quando elas precisarem.
Tendo sempre bem presentes estas realidades, os treinadores deverão sempre tentar fazer com que o jogo não deixe de ser uma brincadeira, mas inerentemente a esta realidade deverão também apresentar sempre um comportamento equilibrado na tentativa de demonstrar o certo e o errado, impondo limites. Para isso é necessária a capacidade pedagógica para ensinar estas crianças. Este processo de ensino deverá recorrer, essencialmente a recompensas pelas aprendizagens dado que a criança aprende inconscientemente.
É neste processo que se insere a matéria abordada ao longo do presente ano lectivo, isto é, formação contínua, experiência prática, experiência do espaço-rua, caracterização global do jogo e a caracterização do jogo infantil.
As experiências motoras básicas que vão sendo adquiridas na “rua” através de actividades motoras intensas e variadas promovidas pela prática de actividades como “jogar à bola”, jogar à apanhada, entre tantas outras actividades que promovem o colectivismo, com regras simplificadas, campos pequenos, poucos jogadores, linhas imaginárias, equipas equilibradas, bola mal cheia, balizas pequenas de “pedra”, mas que permitem a participação de todos e promovem a actividade física.
As crianças não procuram a explicação do jogo que se desenrola num “contexto ambiental interactivo e constante em mudança”, preferem “Instabilidade” e “Incerteza” das múltiplas estruturas e habilidades motoras abertas. Estas dão preferência às acções motoras acíclicas, de curta duração e grande intensidade que ocorrem com uma frequência variável.
O jogo infantil caracteriza-se por diversas dificuldades por parte da criança na prática devido a dificuldades de natureza coordenativa como a força geral e as capacidades técnicas de execução dos gestos. Dificuldades de natureza táctica como antecipação, decisão e percepção, não são importantes no entender das crianças indicadores das capacidades psíquicas que dizem respeito à concentração e ao espírito colectivo que estas não dão importância.
Tendo presente todas as realidades anteriormente referidas, torna-se extremamente importante que o treinador faça jogos para que as crianças pratiquem e desenvolvam as suas capacidade mesmo sem perceber que o fazem. É importante deixar que as crianças joguem, corram, experimentem as acções do jogo e os movimentos, ainda não é o momento para exigir movimentos correctos, apenas o desenvolvimento da coordenação correcta é importante, desde que ocorra através de exercícios que pareçam brincadeiras para elas. As crianças treinam a jogar e a brincar, sem marcações sérias, apenas trabalhar limites e muita coordenação de movimento é o que se pretende das crianças.
Abordando o treino de crianças dos 8 aos 9 anos de idade, embora as diferenças para o que anteriormente foi referido não sejam muitas, é importante saber que as diferenças existem. Estas crianças têm bastante energia, pelo que é difícil mantê-las sossegadas e concentradas sem que andem a correr de um lado para o outro. No entanto, nesta fase a necessidade de competição cresce e já se vai conseguindo trabalhar em pequenos grupos.
Com estas idades, estas crianças já podem executar técnicas simples, mas os treinadores não poderão esquecer que o importante é que as crianças continuem a brincar, a viverem no seu mundo, mas sem perder a noção de que é importante reforçar quais são os limites e, essencialmente discernindo o certo do errado, sendo fundamental a formação pedagógica para lidar com crianças. Segundo Castelo, J. (2002) os princípios pedagógicos traduzem a criação de uma relação de ensino/aprendizagem que favorecem a acção do treinador sobre os praticantes reforçando a sua motivação e vontade de aprenderem, aperfeiçoarem ou desenvolverem atitudes e comportamentos coerentes e lógicos em função da modalidade desportiva que praticam.
Como as crianças não observam suas próprias acções, é necessário que se execute todos os movimentos ainda que, como brincadeira para induzir a correcta execução dos movimentos desejados ao longo do tempo, não sendo necessária a precisão dos movimentos, mas sim a melhoria da coordenação dos movimentos com pequenas correcções e muitos incentivos. É importante tentar melhorar a mobilidade dos movimentos, aumentando assim, aos poucos a amplitude, sem forçar a criança.
O importante nestas idades é corrigir os movimentos técnicos muito errados, pois ainda não é momento de exigir movimentos extremamente correctos, a capacidade física da criança ainda está em desenvolvimento. Para isso podemos começar por estimular jogos de 3 contra 3 criando prémios pelo desempenho na procura de melhorar a concentração das crianças, bem como a introdução do trabalho defensivo, pois é importante que entendam que o jogo se ganha não somente marcando mais, mas sofrendo menos. É importante criar pequenas séries de exercícios de passe, recepção, remates de várias posições sempre utilizando outras crianças para defender, evitando marcações com pinos e barreiras, utilizando estes apenas inicialmente para que estes adquiram noções básicas de onde se deverão colocar.
Para se poder realizar uma correcta intervenção educativa é imprescindível o estudo do desenvolvimento evolutivo e das características das crianças com que se pretende trabalhar e, as idades compreendidas entre os 12 e os 16 anos coincidem aproximadamente com a etapa evolutiva da adolescência, mais concretamente com a primeira fase da adolescência, estritamente vinculada ao período biológico da puberdade.
A adolescência supõe uma troca vital entre o desenvolvimento do ser humano, etapa em que se abandona a infância e se começa a ser adulto em todos os sentidos (biológico, psicológico e social). Assim, no decorrer deste período, para alem das alterações físicas, as crianças sofrem alterações afectivas, cognitivas e de relações sociais, pelo que, é necessário conhecer a identidade motriz, cognitiva e afectivo-social das crianças para se poder planear uma intervenção educativa que favoreça o seu desenvolvimento natural.
De uma forma geral, podemos observar como características próprias das crianças (Ureña et al, 1997, cit. Pereira, P., 2009): Desenvolvimento motor, Desenvolvimento cognitivo e desenvolvimento afectivo-social.
No entanto, permanecem sempre questões como, quando e como ensinar?
Estas questões nunca serão de resposta fácil, haverá sempre quem não concorde na sua plenitude ou simplesmente discorde. Mas, embora seja esta a realidade, talvez seja de mais fácil consenso o uso de regras simples, jogos de curta duração com equipas de número reduzido (as crianças têm dificuldade em entender a força do colectivo, mantém-se o individualismo natural). Será sempre importante manter as crianças motivadas, o que se poderá alcançar pela criação de variações de exercícios e jogos, que visem sempre a coordenação e limites.
“Já comecei a aprender aquilo que todos os treinadores precisam de aprender: que as imagens são melhores do que as palavras, que mostrar é melhor do que dizer e que muita informação é pior do que nenhuma”. Para alcançar os objectivos pretendidos não explique muito, procure demonstrar-lhes como fazer, permitindo sempre o uso das bolas em todas brincadeiras ou jogos. Evite tentar mudar ou até mesmo acabar com o individualismo da criança, pois este é um processo natural que vai ocorrendo durante o desenvolvimento das capacidades da própria criança que pode e deverá ser sempre estimulado.
Esta estimulação pode e deve ocorrer através das mais diversas brincadeiras como o jogo da apanhada ou até mesmo jogos de corrida com bastantes variações de direcção, estimulando habilidades que serão necessárias em breve. Promova experiências de rolar, cair, pular, recepcionar, passar.
“A verdadeira mensagem encontra-se no tom de voz, inflexões, expressão facial, postura. São os sinais não verbais, visuais, auditivos que transmitem a verdadeira mensagem” e, embora um dos objectivos seja promover o colectivismo, não espere trabalho em equipa, pelo que não deverá criticar as crianças por não o fazerem. Um outro ponto importante a que deverá ter atenção, evitar deixar sempre os mesmos grupos juntos e elogiar individualmente cada um pelo cumprimento dos objectivos.
Estes mesmos objectivos poderão ser definidos em pequenos jogos, pelo que deverão ser utilizadas bolas pequenas (promovendo o sucesso), campos reduzidos (20 X 15 m), baliza reduzida (1,60 m), equipas de número reduzido mas sempre com guarda-redes (promova a passagem por todas as posições inclusive guarda-redes).
Em forma de síntese, será sempre importante estar atento e observar as pequenas mudanças de comportamento das crianças, pois com o decorrer do tempo, elas começam a exigir mais dos jogos e de si mesmas.
É importante equilibrar os sentimentos do grupo para ter sempre a ordem e controlo dos treinos pois todas as características atrás referidas não devem nunca ser esquecidas ao treinar crianças. Deixe-as livres, deixe-as jogarem como quiserem, pois não existe nenhuma táctica real para dirigir este processo. De recordar que situações onde muitas crianças se concentram num espaço muito pequeno é um fenómeno normal, todas querem pegar na bola para jogar, pois ainda não entendem que o jogo pode chegar às suas mãos, portanto não se preocupe em afastá-las, em breve elas terão condição de discernir essa necessidade.

5 – Bibliografia
Castelo, J. (2002), O exercício de treino desportivo, Faculdade de Motricidade Humana Edições
http://fpandebol.sapo.pt/
http://handebolbrasil.net/
http://paulojorgepereira.blogspot.com/
Heider Sobral